Friday, October 26, 2012

Mali - West Africa









































Mali
A idéia de conhecer o Oeste da África sempre me despertou muito interesse e curiosidade. A proposta era fazer uma viagem de 4x4 pelo Mali percorrendo todas as regiões do país. Consegui achar o companheiro ideal o meu amigo Lorenzo Madalosso (mais conhecido como “Cabeza de Vaca”) que como eu já havia viajado por terra em outras regiões remotas do planeta.

O Mali é considerado a jóia do Oeste da África um destino muito especial que possui uma rica variedade de atrações. O país ocupa o coração de um território que já abrigou antigos impérios e civilizações.

Encontrei o Lorenzo em Paris e de lá voamos para Bamako a capital do país onde iniciamos a nossa viagem. Cortada pelo Níger um dos rios mais longos da África Bamako é uma cidade vibrante com bons restaurantes, hotéis, vida noturna agitada e grandes mercados de rua.

As estradas do Mali estão em boas condições e apesar de estreitas são muito vazias. Partimos de Bamako e fomos em direção a Djenné uma das principais atrações do Oeste da África. A estrada corta vilarejos e enormes planícies e é possível ver gigantes baobás ao longo do caminho.

Tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade Djenné é uma cidade espetacular que é conhecida pela sua grande mesquita a maior estrutura do mundo feita em argila. O melhor dia para conhecê-la é nas segundas feiras quando acontece o famoso mercado local. Infelizmente a entrada no interior da mesquita é vetada a não muçulmanos. Construída com barro misturado com palha seca e coco de vaca a mesquita é uma estrutura imponente com uma arquitetura fantástica.

Centenas de camponeses das tribos vizinhas trazem seus produtos para serem vendidos ou trocados nas barracas montadas em frente à mesquita. É um verdadeiro espetáculo de cores, aromas, fumaça e sabores. Com certeza aquele cenário não deve ter mudado muito nas ultimas centenas de anos.

Peixes secos pescados no Níger, carnes, frutas exóticas, verduras, animais vivos, temperos, especiarias, couros e roupas. Mercadores negociando seus animais, crianças correndo em meio a porcos e galinhas, mães com bebes nas costas, muito barulho e línguas diferentes. Vagamos por horas fascinados por tudo aquilo que acontecia ao nosso redor e nos sentimos extraterrestres intrusos com nossas câmeras nas mãos.

Almoçamos num restaurante local e provamos o “captain” um peixe grelhado no carvão eleito o prato preferido de toda a viagem. É uma espécie de carpa grelhada com manteiga e limão. A carne é tenra e muito saborosa.

De Dejnné passamos por Mopti a segunda maior cidade do Mali e um importante porto a beira do Niger. Fizemos um passeio de “pinasse” pelo rio uma espécie de canoa de madeira motorizada e visitamos alguns vilarejos, mercados flutuantes e ilhas. Nos hospedamos num hotel cujo do dono era um libanês e para nossa alegria o cardápio do restaurante tinha também típicos pratos libaneses.

De lá seguimos viagem em direção a lendária e isolada cidade de Timbuktu. Nosso principal objetivo da viagem era conseguir chegar nesse lugar considerado por muitos viajantes como um dos lugares mais inacessíveis do planeta o verdadeiro fim do mundo.

Apesar de todos os avisos de segurança das embaixadas européias aconselhando a não visitar essa região decidimos ir mesmo assim com a idéia de que ninguém faria mal ou tentaria seqüestrar dois viajantes do país do futebol. Havia rumores de que uma célula da AL Qaeda estaria tentando controlar e separar a região do resto do país promovendo ataques terroristas.

De fato éramos os dois únicos turistas na cidade. Perambulando pelas ruas tivemos a chance de assistir a um jogo de futebol no estádio municipal. Na entrada havia dezenas de crianças tentando sem sucesso entrar e ameaçadas por um policial com cassetete na mão. Fizemos a alegria da criançada quando pagamos a entrada de todas elas e mandamos o policial liberar a catraca. Logo viramos celebridades locais.

Timbuktu é uma cidade milenar com a maioria da população beduína e esta num ponto muito estratégico entre o Deserto do Sahara e o Rio Niger. Era o ponto final das caravanas de camelo que ligavam o Mediterrâneo ao Oeste da África desde os tempos medievais. Foi a capital de um dos impérios mais prósperos da África com inúmeras universidades islâmicas e mesquitas o importante centro islâmico de uma civilização.

De Timbuktu fomos para o lugar mais fascinante do Mali uma região chamada Dogon Country. Também tombado pela UNESCO como patrimônio histórico e cultural da humanidade o País Dogon fica na região central do país e é formado por pequenos vilarejos encravados ao longo da Falésia de Badiagara.

O povo Dogon se estabeleceu ali há mais de mil anos na tentativa de fugir do Islã. Possuem suas próprias línguas, crenças, costumes, calendários e culinária. Vivem de forma muito primitiva através do pastoreio de animais e agricultura rudimentar.  

Percorremos a pé uma serie de vilarejos ao longo da Falésia. Com muros de barro e casas de sapé cada vilarejo possui na parte mais alta seu Hogon onde vive o ancião líder espiritual da comunidade. É uma figura de grande respeito para quem os mais jovens pedem conselhos e trocam idéias. 

O mais curioso é que as mulheres roubam a cena e são responsáveis por praticamente tudo na sociedade principalmente pelo trabalho mais pesado. Elas carregam os filhos nas costas, baldes de água nas cabeças, cultivam e preparam os alimentos, cuidam da colheita, da troca dos produtos nos mercados, etc.

Visitamos o mercado local onde mulheres com roupas coloridas vendiam frutas e verduras e provamos a cerveja feita de milheto. Bebemos aquela água suja e quente diretamente da bacia que estava sendo carregada na cabeça de uma mulher.

Com tantas atrações incríveis o Mali é ainda muito pouco visitado. Mesmo sendo um dos países mais pobres e precários do mundo é relativamente seguro viajar por lá com exceção de Timbutku onde rebeldes separatistas recentemente tomaram o controle da região.

Centenas de crianças se aproximam durante toda a viagem para pedir dinheiro, balas e presentes. As condições de higiene e infra estrutura são precárias e é muito difícil não se comover com toda aquela criançada sorridente olhando para você.  

Percorremos mais de 3.000 km com nossa Land Cruiser pelas estradas do país e encerramos nossa viagem no mesmo ponto de partida a capital Bamako.

A maneira mais fácil de chegar no Mali é voando Air France via paris. Visto e vacina de febre amarela são obrigatórios. Para a emissão do visto o ideal é conseguir uma carta convite através de uma agência de turismo local mediante contato prévio. A língua oficial é o francês e a moeda o franco. Dólares e Euros também são aceitos. A melhor época para ir é após a estação das chuvas de Novembro a janeiro.

Wednesday, October 17, 2012

Etiópia


















Como um país tão rico em história e tradições culturais continua sendo um lugar tão pouco visitado?

Mal compreendida e afastada das rotas turísticas convencionais a Etiópia continua sendo sinônimo de guerras e lugar onde crianças subnutridas morrem de fome. As fortes imagens da crise humanitária causada pela seca publicadas nos anos de 2000 e 2002 chocaram profundamente o mundo.

Infelizmente essa é a imagem lembrada pelas pessoas assim como as imagens do Carnaval e Futebol são associadas ao Brasil. Essa má interpretação e preconceito embora sejam negativos tem seus benefícios transformando a viagem ao país em uma grande descoberta e uma agradável surpresa.

Dentre suas atrações históricas destacam-se as fantásticas igrejas esculpidas na pedra em Lalibela datadas do século 12 e 13, os grandiosos castelos de Gonder do século 17, os gigantescos obeliscos de granito em Aksum com mais de 2.000 anos de idade e os antigos monastérios ortodoxos nas ilhas do Lago Tana.

É também no Lago Tana no interior da Etiópia que nasce o Nilo Azul que junto com o Nilo Branco oriundo do Lago Victoria formam o Rio Nilo. As águas do Nilo Azul, cujas cataratas criam um belo cartão postal, correspondem por quase 90% do Nilo que se estende até Egito.

Também conhecida como a Petra da África, Lalibela é o lugar mais fantástico e sagrado da Etiópia. Foi concebida pelo Rei Lalibela para ser uma nova Jerusalém em solo africano acessível a todo o povo etíope longe dos muçulmanos. Cerca de 400 igrejas datadas dos séculos 12 e 13 foram esculpidas nas pedras na região e encontram-se bem conservadas. As mais famosas são a Bet Giyorgis ou Igreja de São Jorge em forma de cruz e a Bet Maryam ou Igreja de Maria construída em homenagem a virgem que é adorada no país.

A Etiópia é o único país da África que não foi colonizado e por isso manteve firme e intacta toda a sua identidade cultural.

O país conserva sua própria e distintiva língua, sua própria bebida e culinária, sua própria igreja, seus santos e até seu próprio calendário.

Com maioria da população cristã-ortodoxa, uma outra parte muçulmana e uma minoria de judeus a Etiópia é um lugar bíblico lar de uma das mais interessantes civilizações do mundo.

Os Falashas são os judeus etíopes descendentes diretos de Menelik, filho do Rei Salomão e da Rainha de Sabá. Segundo a lenda a Rainha de Sabá, cuja dinastia durou cerca de 3.000 anos, foi fazer uma visita de estado ao Rei Salomão em Jerusalém e voltou à Etiópia com o futuro Rei Menelik nos braços. Hoje restam pouquíssimos Falashas na Etiópia e algumas poucas sinagogas perto de Gonder. A maioria deles imigrou para Israel.

Também lugar de famosas descobertas arqueológicas a Etiópia é conhecida como o Berço da Humanidade. Lá foram encontrados os restos fossilizados do mais antigo hominídeo do planeta apelidado de Lucy com mais de 3.2 milhões de anos.

Lucy é o carinhoso nome dado ao esqueleto da nossa mais antiga descendente metade humana metade macaco. Foi uma homenagem à música dos Beatles Lucy in the Sky with Diamonds que tocava no campo arqueológico no momento da descoberta. Lucy encontra-se exposta no Museu Nacional de Adis Abeba, capital do país.

Em contraste com seu estereotipo de Terra da Fome a Etiópia destaca-se também por suas exuberantes paisagens, sua vida selvagem e seus diferentes grupos étnicos.

Com suas ricas tradições, sua bela história e seus laços estreitos com o Cristianismo e Judaísmo a Etiópia é um país fascinante que aguarda ansiosamente para ser desbravada.

É um lugar muito mais rico e interessante do que podemos imaginar. É com toda certeza o segredo mais bem guardado da África. Vale a pena visitá-la antes que esse segredo seja descoberto!







Informações e Curiosidades:

O conhecido termo Rastafari originou-se a partir do nome do ultimo monarca da Etiópia, Haile Selassie, que fora corado imperador em 1930 e reinou até 1974. Ras significa príncipe e Tafari era seu nome antes de ser coroado. Identificando-se com o monarca etíope e com a própria Etiópia como um estado africano independente livre do colonialismo criou-se na Jamaica uma nova religião acreditando-se que o novo imperador etíope era a encarnação de Deus. Atualmente os Rastas aguardam pacientemente a restauração da monarquia na Etiópia.

Amárico é a língua oficial do país e pertence à mesma família das línguas semíticas como o hebraico, o árabe e o assírio. A moeda local é o Birr. A melhor época para visitar o país é de Outubro a Janeiro após a estação das chuvas.

Minha sugestão é fazer o circuito histórico começando em Adis em seguida visitando os monastérios ortodoxos no Lago Tana próximos a Bahar Dar e as Cataratas do Rio Nilo Azul. Depois uma visita às cidades de Gonder para ver os castelos medievais, Lalibela para ver as igrejas antigas e Aksum para ver obeliscos do Império Aksumita.

Devido à geografia montanhosa do país recomendo fazer alguns dos trechos de avião. As acomodações fora de Adis são muito simples e baratas com exceção de alguns hotéis do governo.

Acreditem ou não o país possue uma das melhores companhias aéreas da África com uma frota moderna e uma excelente malha de vôos domésticos e internacionais com um ótimo serviço de bordo. A rede hoteleira apesar de ainda pouco desenvolvida orgulha-se de ter o mais luxuoso hotel do continente africano, o Sheraton de Adis Abeba, um verdadeiro palácio.

A comida local é picante e exótica. Não deixem de experimentar a Injera, uma panqueca com especiarias e o Tej, vinho local feito de mel. A cerimônia do café não deve ser perdida onde os grãos são torrados e moídos na hora. O café etíope é considerado um dos mais saborosos e caros mundos, não na Etiópia.

A Etiópia conhecida também como Abissínia fica na região do Chifre da África, no Leste, perto da Somália, Sudão e Eritréia. Para se chegar lá pode-se voar via Frankfurt, Roma ou Dubai. Vistos são emitidos no desembarque mediante pagamento de taxa e atestado de vacina de febre amarela.

Por Raul Frare