A idéia de conhecer o Oeste da África sempre me
despertou muito interesse e curiosidade. A proposta era fazer uma viagem de 4x4
pelo Mali percorrendo todas as regiões do país. Consegui achar o companheiro
ideal o meu amigo Lorenzo Madalosso (mais conhecido como “Cabeza de Vaca”) que
como eu já havia viajado por terra em outras regiões remotas do planeta.
O Mali é considerado a jóia do Oeste da África um
destino muito especial que possui uma rica variedade de atrações. O país ocupa
o coração de um território que já abrigou antigos impérios e civilizações.
Encontrei o Lorenzo em Paris e de lá voamos para Bamako
a capital do país onde iniciamos a nossa viagem. Cortada pelo Níger um dos rios
mais longos da África Bamako é uma cidade vibrante com bons restaurantes,
hotéis, vida noturna agitada e grandes mercados de rua.
As estradas do Mali estão em boas condições e apesar de
estreitas são muito vazias. Partimos de Bamako e fomos em direção a Djenné uma
das principais atrações do Oeste da África. A estrada corta vilarejos e enormes
planícies e é possível ver gigantes baobás ao longo do caminho.
Tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade
Djenné é uma cidade espetacular que é conhecida pela sua grande mesquita a
maior estrutura do mundo feita em argila. O melhor dia para conhecê-la é nas
segundas feiras quando acontece o famoso mercado local. Infelizmente a entrada
no interior da mesquita é vetada a não muçulmanos. Construída com barro
misturado com palha seca e coco de vaca a mesquita é uma estrutura imponente
com uma arquitetura fantástica.
Centenas de camponeses das tribos vizinhas trazem seus
produtos para serem vendidos ou trocados nas barracas montadas em frente à
mesquita. É um verdadeiro espetáculo de cores, aromas, fumaça e sabores. Com
certeza aquele cenário não deve ter mudado muito nas ultimas centenas de anos.
Peixes secos pescados no Níger, carnes, frutas
exóticas, verduras, animais vivos, temperos, especiarias, couros e roupas. Mercadores
negociando seus animais, crianças correndo em meio a porcos e galinhas, mães
com bebes nas costas, muito barulho e línguas diferentes. Vagamos por horas fascinados
por tudo aquilo que acontecia ao nosso redor e nos sentimos extraterrestres intrusos
com nossas câmeras nas mãos.
Almoçamos num restaurante local e provamos o “captain” um
peixe grelhado no carvão eleito o prato preferido de toda a viagem. É uma
espécie de carpa grelhada com manteiga e limão. A carne é tenra e muito
saborosa.
De Dejnné passamos por Mopti a segunda maior cidade do
Mali e um importante porto a beira do Niger. Fizemos um passeio de “pinasse”
pelo rio uma espécie de canoa de madeira motorizada e visitamos alguns
vilarejos, mercados flutuantes e ilhas. Nos hospedamos num hotel cujo do dono
era um libanês e para nossa alegria o cardápio do restaurante tinha também
típicos pratos libaneses.
De lá seguimos viagem em direção a lendária e isolada cidade
de Timbuktu. Nosso principal objetivo da viagem era conseguir chegar nesse lugar
considerado por muitos viajantes como um dos lugares mais inacessíveis do planeta
o verdadeiro fim do mundo.
Apesar de todos os avisos de segurança das embaixadas
européias aconselhando a não visitar essa região decidimos ir mesmo assim com a
idéia de que ninguém faria mal ou tentaria seqüestrar dois viajantes do país do
futebol. Havia rumores de que uma célula da AL Qaeda estaria tentando controlar
e separar a região do resto do país promovendo ataques terroristas.
De fato éramos os dois únicos turistas na cidade. Perambulando
pelas ruas tivemos a chance de assistir a um jogo de futebol no estádio
municipal. Na entrada havia dezenas de crianças tentando sem sucesso entrar e ameaçadas
por um policial com cassetete na mão. Fizemos a alegria da criançada quando
pagamos a entrada de todas elas e mandamos o policial liberar a catraca. Logo
viramos celebridades locais.
Timbuktu é uma cidade milenar com a maioria da
população beduína e esta num ponto muito estratégico entre o Deserto do Sahara
e o Rio Niger. Era o ponto final das caravanas de camelo que ligavam o
Mediterrâneo ao Oeste da África desde os tempos medievais. Foi a capital de um
dos impérios mais prósperos da África com inúmeras universidades islâmicas e
mesquitas o importante centro islâmico de uma civilização.
De Timbuktu fomos para o lugar mais fascinante do Mali
uma região chamada Dogon Country. Também tombado pela UNESCO como patrimônio histórico
e cultural da humanidade o País Dogon fica na região central do país e é
formado por pequenos vilarejos encravados ao longo da Falésia de Badiagara.
O povo Dogon se estabeleceu ali há mais de mil anos na
tentativa de fugir do Islã. Possuem suas próprias línguas, crenças, costumes,
calendários e culinária. Vivem de forma muito primitiva através do pastoreio de
animais e agricultura rudimentar.
Percorremos a pé uma serie de vilarejos ao longo da Falésia. Com muros de barro e casas de sapé cada vilarejo possui na parte mais alta seu Hogon onde vive o ancião líder espiritual da comunidade. É uma figura de grande respeito para quem os mais jovens pedem conselhos e trocam idéias.
O mais curioso é que as mulheres roubam a cena e são
responsáveis por praticamente tudo na sociedade principalmente pelo trabalho
mais pesado. Elas carregam os filhos nas costas, baldes de água nas cabeças,
cultivam e preparam os alimentos, cuidam da colheita, da troca dos produtos nos
mercados, etc.
Visitamos o mercado local onde mulheres com roupas
coloridas vendiam frutas e verduras e provamos a cerveja feita de milheto.
Bebemos aquela água suja e quente diretamente da bacia que estava sendo
carregada na cabeça de uma mulher.
Com tantas atrações incríveis o Mali é ainda muito
pouco visitado. Mesmo sendo um dos países mais pobres e precários do mundo é relativamente
seguro viajar por lá com exceção de Timbutku onde rebeldes separatistas recentemente
tomaram o controle da região.
Centenas de crianças se aproximam durante toda a viagem
para pedir dinheiro, balas e presentes. As condições de higiene e infra
estrutura são precárias e é muito difícil não se comover com toda aquela
criançada sorridente olhando para você.
Percorremos mais de 3.000 km com nossa Land Cruiser
pelas estradas do país e encerramos nossa viagem no mesmo ponto de partida a capital
Bamako.
A maneira mais fácil de chegar no Mali é voando Air
France via paris. Visto e vacina de febre amarela são obrigatórios. Para a
emissão do visto o ideal é conseguir uma carta convite através de uma agência
de turismo local mediante contato prévio. A língua oficial é o francês e a
moeda o franco. Dólares e Euros também são aceitos. A melhor época para ir é
após a estação das chuvas de Novembro a janeiro.