O vôo de Istambul a Tashkent, capital do Uzbequistão, dura pouco menos de cinco horas. A imigração é lenta e extremamente burocrática, um verdadeiro caos. Não existem filas e todos se amontoam desesperadamente para conseguir entrar no país.
O carimbo no passaporte vem com um ar de vitória, mas a confusão não pára por aí, pois ainda tem a alfândega e os malditos taxistas que disputam os turistas a tapas para inconvenientemente tentar extorquir alguns dólares.
Tashkent é uma típica metrópole soviética, meio decadente, porém grandiosa, limpa e organizada. É a quarta maior cidade da ex-URSS, atrás apenas de Moscou, St. Petersburgo e Kiev. Suas estações de metrô são majestosas e foram projetadas para serem abrigos antinucleares. Por motivos de segurança tirar fotos dentro delas é extremamente proibido, uma pena, levando em conta a riqueza dos detalhes e suas ornamentações.
A maneira mais segura e eficiente de viajar pelo país é de táxi. Além de ser muito barato você ainda evita de voar em um dos aviões da antiga frota soviética. Fui a Samarkand descendo o país por um corredor entre o Cazaquistão e Tajikistão.
Quando Alexandre o Grande chegou a Samarkand em 329 BC disse: “Tudo que eu escutei sobre Samarkand é verdade exceto que é ainda mais bonita do que eu imaginava”. Realmente Alexandre tinha razão. Samarkand é a cidade mais gloriosa do Uzbequistão com uma longa e rica história. Durante séculos foi o centro econômico e cultural da Ásia Central. Os minaretes, mosaicos e domos turquesas de seus grandes templos como o “Registan”, suas mesquitas e bazares coloridos dão um tom mágico e especial ao local.
Hospedei-me na Bahodir B&B, uma “guesthouse” simples, mas com um aconchego familiar que poucos hotéis mais caros poderiam oferecer. Conheci ali vários viajantes que estavam viajando da Europa a Ásia por terra. Dentre eles dois londrinos que saíram de carro de Londres e rumavam a Ulanbator na Mongólia, patrocinados e levantando fundos para salvar as crianças da Ásia Central. O site deles é muito interessante: www.drivetomongolia.org
De Samarkand fui para Bukhara. São três horas de viagem cruzando as plantações de algodão e planices desérticas. O Uzbequistão é um dos maiores produtores mundiais de algodão graças ao desvio das águas que alimentam o Mar de Aral que por sua vez fora um dos maiores lagos do mundo e hoje, praticamente seco, gera grandes desastres ambientais.
Bukhara é a cidade mais sagrada da Ásia Central. As ruelas da cidade antiga e suas construções de argila formam grandes labirintos nos dando a impressão de que o lugar não deve ter mudado muito nos últimos séculos. Bukhara é também um grande espetáculo ao vivo com seus vendedores de tapetes, bazares cobertos e “medressas” (escolas que ensinam o Islã) cheias de vida, musicas, aromas e fumaça.
Apesar da população predominantemente muçulmana Bukhara ainda possui um quarteirão judaico datando do século 13. Suas duas sinagogas possuem mais de 200 anos e ainda prestam o “Shabat” em Tajik, o idioma local.
Em mais 6 horas de viagem cheguei a Khiva, uma cidade remota nos confins do Uzbequistão que antes fora centro das caravanas de escravos e crueldade bárbaras. Khiva é protegida por uma grande muralha e diferentemente de outras cidades da Ásia Central está inteiramente preservada. Durante as noites pode-se observar a silhueta da Lua nos minaretes e colunas da cidade, um espetáculo de beleza indescritível.
O Hotel Khiva é a opção mais bacana de hospedagem por termos a oportunidade de nos hospedar numa verdadeira medressa. A antiga construção foi inteira adaptada para se tornar um hotel e os antigos quartos dos alunos que ali viviam para estudar o Islã foram transformados em pequenos quartos de hotel.
Sempre fui fascinado pela Ásia Central, isolada do resto do mundo com sua burocracia pós-soviética e seus desertos, estepes, montanhas e planices infinitas. Rico e milenar, o Uzbequistão é a grande atração dessa região. Suas cidades prosperaram muito durante a Rota da Seda e foram concebidas com uma arquitetura única e fabulosa.
Devido a sua importância foi também o epicentro de guerras e disputas sendo invadido por grandes conquistadores como Jenghiz Khan, Amir Timur, Ciro da Pérsia e Alexandre. Ao visitar o Uzbequistão temos a certeza de que em outros tempos esse não era o fim do mundo, mas sim o centro dele.
Informações Gerais
Nome:
Republica do Uzbequistão
Capital:
Tashkent
Área:
447.400 Km²
População:
25.9 milhões
Idiomas:
Uzbeque (oficial), russo e tajik (em Bukhara e Samarkand).
Religião:
90% muçulmanos sunitas, 10% outras.
Moeda:
Sum.
Vistos de entrada:
Necessário para todos mediante apresentação de carta convite. Não há representação consular no Brasil.
Como chegar lá:
Não há vôos diretos desde o Brasil. A melhor maneira é fazendo escalas em Londres, Paris, ou Istambul.
Frases:
olá = salom aleikum
obrigado = rakhmat
Preços:
Quarto individual em guesthouse com refeição: US$ 10
Refeição simples em restaurante local = US$ 3
Garrafa de cerveja = US$ 2.50
Litro de Água Mineral = US$ 0.40
Litro de Gasolina = US$ 0.25
Por Raul Frare em 21/10/2005
2 comments:
Que legal este teu relato...parabéns! Abrs Cláudia
Raul, que incrível!! Depois deste relato o Uzbequistão entrou na minha lista de prioridades!! Interessantíssimo!! Mas me conta, vc fez esse passeio todo de taxi?? Existe alguma agencia que faz este roteiro?? Num lugar assim, morro de medo de viajar por conta própria...
Saudações,
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